Lilian Nakhle

"Faltam palavras para o que a gente sente...Sobra emoção no que a gente vive. Seja bem vindo ! ! !"

Textos


 “CONTOS DE FADAS E O PENSAMENTO DA CRIANÇA”
 
Os contos de fadas envolvem a magia, o encantamento, o maravilhoso, e tal como a criança são maniqueístas, ou seja, enfatizam valores estereotipados do bem e do mal, do belo e do feio, etc. É comum a criança de quatro anos afirmar que algo é bom ou ruim desconsiderando o meio termo, assim a fada é bondosa, meiga, linda, perfeita, desprovida de qualquer defeito, enquanto a bruxa é totalmente má, rabugenta, feia, incapaz de sensibilizar-se ou demonstrar amor.
A criança é essencialmente suscetível à fantasia, logo, os contos de fadas viabilizam a elaboração do real, fornecendo à mesma modelos de estruturas sociais e comportamentais que facilitam o entendimento da complexidade do mundo dos adultos.
Ao ouvir uma história a criança elabora emocionalmente medos, aflições, prazer e alegria, por identificar-se com situações conseguindo resolver até conflitos que habitam seu universo interior. Ela também experimenta segurança e satisfação quando a história é contada sempre da mesma forma e assim reconhecida, a ponto de se mostrar insatisfeita quando nota alguma alteração feita pelo contador.
Os contos não devem ser modificados para não se correr o risco de distorcer um mito já depurado e principalmente, para não alterar o rigor do bem e do mal que a criança exercita nesta faixa etária.
De acordo com a Psicanálise, Bruno Bettelhein afirma que existe uma função terapêutica nos contos de fadas, uma vez que ao identificar-se com as dificuldades do herói ou sucesso do vilão, a criança tende a solucionar seus próprios conflitos interiores. O script de vida da criança revela indícios que esclarecem os motivos pelos quais ocorrem certas identificações com personagens e ações, pois os “mandatos” e “crenças” que recebeu de sua família possibilitam que a criança solicite ajuda para confirmar ou não suas hipóteses.
A linguagem simbólica dos contos de fadas favorece a elaboração mental da relação do bem com o imaginário aproximando prazerosamente a criança da realidade de maneira consistente, conduzindo-a paulatinamente a uma progressiva maturidade.
Dessa forma, os contos traduzem bem a imaginação, o prazer e o encantamento: elementos estes essenciais para o desenvolvimento e estruturação do raciocínio lógico. A criança adquire a possibilidade de desenvolver seu potencial crítico refletindo, questionando comportamentos ou ações ao ouvir ou ler uma história (imagens ou palavras).
A obra “João e Maria”, por exemplo, mostra o abandono das crianças na floresta, e o sofrimento das mesmas, ao perceberem que perderam o caminho de volta para casa.
Este fato pode relacionar-se à sensação que a criança experimenta quando seus pais demoram em buscá-la na escola, revelando sua angústia, seu medo, sua sensação de desamparo. Tal sensação pode ser entendida muitas vezes pela falta ou ausência de atenção e diálogo com os pais, podendo deixá-la suscetível aos apelos externos, e a criança pode envolver-se com drogas e violência, imaginado assim encontrar um refúgio ou um acolhimento quando está fragilizada.
A história de “João e Maria” retrata este fato com a atitude da bruxa ao arrebatar as crianças com a finalidade de devorá-las.
O final feliz do conto proporciona à criança novo alento e a certeza que seus problemas e angústias, serão superados no devido tempo, uma vez que exige da mesma uma nova estruturação de pensamento. A estratégia de João e Maria para se livrarem da bruxa mostra segurança interior, criatividade e estruturas de pensamento construídas no dia-a-dia da criança através de oportunidades vindas de seu grupo familiar ou da sala de aula. Estas oportunidades favorecem a criança opções de escolhas, tomadas de decisões e iniciativas adequadas.
Não podemos esquecer que a criança está construindo sua noção de mundo e é fundamental para isto, motivá-la respeitando o seu ritmo interno.
Portanto, os contos são imprescindíveis para a evolução mental e para a aquisição de novos esquemas mentais pela criança.
Lembre-se de ler muito para seus filhos e se necessário, repita a mesma história ou parte dela quando for solicitado, afinal, você está colaborando para a formação de um cidadão seguro, autônomo e crítico, além de possibilitar ao mesmo a alegria e o prazer de ler.
 
 





Lilian Nakhle
Psicopedagoga / Psicoterapeuta
Livros Publicados: “Anjos não tiram férias” e
                        “Céo, o anjinho”.

 
 
 
LilianNakhle
Enviado por LilianNakhle em 04/09/2009
Alterado em 22/07/2011
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