"Casais Acomodados”
Disposição, tempo e vontade... Ingredientes básicos e imprescindíveis para superar os desgastes dos relacionamentos e pra preservar uma saudável vida em comum.
Quando a vida afetiva esvazia-se os parceiros encontram-se isolados e acreditam que não foram amados e muito menos compreendidos. Fogem dos conflitos e refugiam-se num mundo próprio onde impera a vitimosidade e a desqualificação do parceiro.
Os "raros" contatos afetivos e sexuais denunciam o desencontro e a deteriorização da relação; assim o casal passa a comunicar-se apenas para superar os desafios do cotidiano: contas a pagar educação de filhos, exigências domésticas, enfim, cumprem as funções necessárias para a sobrevivência da família.
Esconder-se através de mágoas e ressentimentos apenas traduz uma acomodação insana, inadequada e inconveniente. Talvez o mais importante neste momento seja enfrentar o desafio e principalmente manifestar ao parceiro suas necessidades e desejos, juntamente com claras evidências de que espera ser atendido na medida do possível, afinal, um precisa do outro, sim. Uma vez unidos por vontade própria e consciente da valiosa amorosidade ainda presente, nada melhor que a humildade de reconhecer a importância do outro.
As constantes lamúrias e queixas de um ou de outro denunciam a necessidade de uma análise justa e comprometida com a verdade, procurando perceber as qualidades e transformações positivas do parceiro, afinal, é possível fazer uso dos desentendimentos e desencontros para exercitar o diálogo e viabilizar negociações, revendo determinadas atitudes, assumindo as próprias falhas e principalmente visando o crescimento maduro do casal.
Focalizar a atenção nos defeitos, apontar o dedo para recriminar, julgar-se o (a) coitadinho do relacionamento só demonstra a imaturidade de nós mesmos e a imensa dificuldade de descobrir que realmente somos. Por vezes fica difícil enxergar que quase tudo o que recriminamos e desprezamos no parceiro está muito mais presente em nosso próprio comportamento, pensamento e valores do que no outro.
Assim, é evidente a necessidade de mudar o foco, redirecionar o olhar e afastar atitudes agressivas de menosprezo que desgastam e rompem elos valiosos e, além de não solucionar os conflitos, deixam marcas definitivamente negativas para o casal.
Reconhecemos que queremos acertar sempre e que erramos porque somos seres humanos passíveis de inúmeras falhas. Muitas vezes não sabemos como agradar e até mesmo ferimos quem amamos por incompetência para expressar nossa real intenção.
Acredito que ao retomar um passado onde os sonhos e valores caminhavam em busca da realização de uma meta, de quando a vontade de ficar juntos era despertada a cada instante, podemos encontrar distintas saídas para descobrirmos como e porquê ocorrem o desvirtuamento e abandono de nossos planos em comum e, por que não dizer, saídas para reinventar o amor.
Lilian Nakhle
Psicopedagoga /Escritora
Livros publicados:
“Anjos não tiram férias” e “CEO, O Anjinho”